SALA DE LEITURA

Cidadania

É muito importante entender bem o que é cidadania. Trata-se de uma palavra usada todos os dias, com vários sentidos. Mas hoje significa, em essência, o direito de viver decentemente e o dever de contribuir para que todos vivam melhor.
Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder expressá-la.  É poder votar em quem quiser sem constrangimento, processar um médico que tenha agido com negligência. É devolver um produto estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro, índio, homossexual, mulher, sem ser discriminado. De praticar uma religião sem ser perseguido.
Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios de cidadania: respeitar o sinal vermelho no trânsito, não jogar papel na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comportamento está o respeito à coisa pública.
O direito de ter é uma conquista da humanidade. Da mesma forma que a anestesia, as vacinas, o computador, o telefone celular, a máquina de lavar, a pasta de dente, o transplante de coração.
Foi uma conquista dura. Muita gente lutou e morreu para que tivéssemos o direito de votar. E muitos batalharam para que você tivesse o direito de votar aos 16 anos. Muito sangue foi derramado pela ideia de que todos os homens merecerem a liberdade e de que todos são iguais perante a lei.

Adaptado de Gilberto Dimenstein, O Cidadão de papel, São Paulo: Editora Ática, 2005, p. 12 e 13.



A Parábola do Semeador
Certa vez Jesus contou uma parábola aos seus discípulos dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. E ao semear uma parte caiu a beira do caminho, e vindo as aves a comeram. Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol a queimou; e porque não tinha raiz secou.

Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto: A cem a sessenta e a trinta por um.
REFLEXÃO
Esta rica passagem da bíblia tem muito a nos ensinar, além de ser um recurso lingüístico pode nos trazer uma grande lição para os nossos dias. Jesus era mestre em contar parábolas para que os seus discípulos aprendessem uma verdade para aplicar em suas vidas. Nós educadores, somos esse mestre, que semeamos o conhecimento e não só o conhecimento, mas, tentamos ser formadores de opinião e fazer com que esse aluno alargue a sua visão, e consiga enxergar um horizonte promissor. Mas muitas vezes os nossos alunos são como essas sementes, sem forças, desmotivados, sufocados por problemas dos mais diversos.
Mas assim como Jesus, nós educadores, temos uma missão de semear o conhecimento, não desistir, pois apesar dos pesares nós temos alunos que recebem de bom grado tudo aquilo nós ensinamos a eles. Eles são como essa boa terra, e com certeza darão muitos frutos.

            Vamos lá Educador! Você é PONTA DE LANÇA!
Professora Ednalda
 

Deus não desiste
Você já se deu conta de que Deus nunca desiste?
Se ainda não havia percebido, observe o mundo ao seu redor.
Se você amanhece triste, Deus lhe oferece o canto dos pássaros, antes mesmo do amanhecer, pois seu canto sonoro se faz ouvir quando ainda a noite não se despiu por completo.
Se você se sente só no mundo, Deus lhe acena com inúmeras oportunidades de conhecer pessoas e fazer novas amizades, desfazendo essa sensação de abandono.
Deus nunca desiste...
Para aqueles que não gostam dos dias chuvosos, o Criador enfeita as folhas verdes com pequenas gotas brilhantes, como querendo mostrar que a chuva tem seus pequenos encantos e belezas.
Para quem não gosta dos dias quentes, Deus oferece o espetáculo dos insetos alados, em graciosa dança, a dizer que o verão tem sua graça.
Deus nunca desiste...
Aos seus filhos, que apreciam os dias frios do inverno, Deus mostra as noites mais limpas e cravejadas de estrelas e os dias de céu mais azul de todas as estações.
Deus nunca desiste...
Se você ainda não havia percebido essa realidade, comece a olhar ao seu redor. Há muitos motivos para você acreditar que o Criador está sempre fazendo o máximo para que você perceba o Seu empenho.
Só no dia de hoje, quantas mostra da ação de Deus não se podem contemplar?
Se, para você o dia parece inútil, as situações sem graça e os problemas sem possibilidade de solução, pare e observe melhor.
Você notará uma árvore oferecendo sombra, uma flor dando perfume, um pássaro cantando para você, uma borboleta lhe convidando a bailar..., porque Deus nunca desiste.
Mesmo que se diga o ponto final da relação de amor que nos une a outros seres...
Ainda que se proclame devastadora de sentimentos e capaz de aniquilar sonhos...
Não se deixe levar por essa farsante cruel...
Do outro lado do túmulo a morte será desmascarada, porque Deus nunca desiste... e a vida seguem estuante.
O Criador tem planos de felicidade para você...
E jamais desistirá, enquanto você não tomar posse desta herança que lhe foi destinada.
Esta herança está depositada no íntimo de cada um de nós, e mesmo que os milênios se escoem, que nos pareça que jamais a conquistaremos, um dia a felicidade será realidade...
Deus nunca desiste...
Ainda que no dia de hoje você não tenha nenhuma conquista significante, que a tristeza lhe ronde as horas, que a alegria pareca distante e a esperança esteja de férias... Deus não desiste.
Quando o hoje partir e nada mais restar de suas horas, Deus lhe acenará com um novo dia, e novas oportunidades surgirão para que você dê mais um passo na direção da felicidade efetiva.
E se esta existência não for suficiente para você atingir a felicidade suprema, ainda assim Deus não desistirá.
Uma nova oportunidade irá surgir uma nova existência lhe será oferecida... E novamente teremos a prova de que Deus não desiste.
E se Deus não desiste é porque ama cada filho seu...
E assim é, por que você, que é herdeiro desse Pai amoroso e bom, irá desistir?
Pense nisso e observe os acenos divinos em cada convite da vida para que você jamais deixe de caminhar na direção da luz.
...Porque Deus, nunca desiste.


Uma formiga me convidou a orar

Outro dia, vi uma formiga que carregava uma enorme folha. A formiga era pequena e a folha devia ter, no mínimo, dez vezes o tamanho dela. A formiga a carregava com sacrifício. Ora a arrastava, ora a tinha sobre a cabeça. Quando o vento batia, a folha tombava, fazendo cair  também a formiga.

Foram muitos os tropeços, mas nem por isso a formiga desanimou de sua tarefa.
Eu a observei e acompanhei, até que chegou próximo de um buraco, que devia ser a porta de sua casa.Foi quando pensei: “Até que enfim ela terminou seu empreendimento”. Ilusão minha. Na verdade, havia apenas terminado uma etapa.
A folha era muito maior do que a boca do buraco, o que fez  com que a formiga a deixasse do lado de fora para, então, entrar sozinha.

Foi aí que disse a mim mesmo: “Coitada, tanto sacrifício para nada” Lembrei-me ainda do ditado popular: “Nadou, nadou e morreu na praia”.
Mas a pequena formiga me surpreendeu. Do buraco saíram outras formigas, que começaram a cortar a folha em pequenos pedaços.
Em pouco tempo, a grande folha havia desaparecido, dando lugar a pequenos pedaços e eles estavam todos dentro do buraco. Imediatamente me peguei pensando em minhas experiências.
Quantas vezes desanimei diante do tamanho dificuldades? Talvez, se a formiga tivesse olhado para o tamanho da folha, nem mesmo teria começado a carregá-la. Invejei a persistência, a força daquela formiguinha. Naturalmente, transformei minha reflexão em oração e pedi ao Senhor: Que me desse a tenacidade daquela formiga, para “carregar”  as dificuldades do dia-a-dia. Que me desse a perseverança da formiga, para não desanimar diante das quedas. Que eu pudesse ter a inteligência, a esperteza dela, para dividir em pedaços o fardo que, às vezes, se apresenta grande demais.
Que eu tivesse a humildade para partilhar com os outros o êxito da chegada, mesmo que o trajeto tivesse sido solitário.
Pedi ao Senhor a graça de, como aquela formiga, não desistir da caminhada, mesmo quando os ventos contrários me fazem virar de cabeça para baixo, mesmo quando, pelo tamanho da carga, não consigo ver com nitidez o caminho a percorrer.
A alegria dos filhotes que, provavelmente, esperavam lá dentro pelo alimento, fez aquela formiga esquecer e superar todas as adversidades da estrada.
Após meu encontro com aquela formiga, saí mais fortalecido em minha caminhada. Agradeci ao Senhor por ter colocado aquela formiga em meu caminho ou por me ter feito passar pelo caminho dela. Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente.
Texto: Ninon Rose Hawryliszyn e Silva



As Letras

Ananias Matos

As letras sempre foram minhas aliadas, ora para o trabalho, ora para expressar meus sentimentos, ora para fazer uma reflexão. Mas não posso negar que agora até elas se tornaram escassas. Como tem sido difícil escrever alguma coisa...As letras, individualmente, não dizem nada e nem têm significado algum. Se elas não estiverem numa conjugação harmoniosa, nada se extrairá delas.Talvez este texto, por exemplo, ainda esteja obscuro, mas, se exemplificarmos, certamente que trará uma luz a esta exposição de pensamentos. Vejamos o caso da letra “m”, sozinha assim, não diz absolutamente nada, mas, colocando do seu lado esquerdo a letra “a” e do seu lado direito a letra “o”, e, finalmente, acrescentando após a letra “o” a letra “r”, encontraremos a palavra mais usada, mais querida, mais sublime e a mais desejada de ser ouvida: “amor”.
Só uma bela composição de palavras, como vista, tem um significado tão maravilhoso e pode nos trazer alento sem precedentes. As letras estão sempre diante de nós, almejando serem tocadas, esperando que façamos algo com elas.
As letras são passíveis, indeléveis, sensíveis, de uma obediência tal nunca vistos. Basta utilizá-las, que seremos capazes de transmitir mensagens de apagar qualquer fogo, estancar as doloridas lágrimas, alegrar o machucado coração e de fazer a mais célica justiça.
Meu Deus! Será possível que não encontrarei uma classe de palavra neste dia para dizer alguma coisa aos meus amigos, que neste momento pararam para ler este texto? Como alcançar pessoas tão diferentes, no sentido de ideologias, de crenças e de posição social... Senhor, Tu sabes que as letras sozinhas não dizem nada, dai-me, eu te peço, uma combinação de letras capaz de expressar meus sentimentos e para falar do teu incomparável amor...
Sim, desculpe-me, por um momento esqueci que estava escrevendo um texto. Estou falando das letras e como elas são singulares na tarefa de transmitir boas novas.
Pois bem, as letras, como disse, tem se tornado muito escassas na atualidade, principalmente se for para falar dos verdadeiros sentimentos. Evidentemente que a culpa não são delas, ao contrário, talvez tenha sido meu coração ou mente, que tem se endurecido a tal ponto não saber mais usá-las. Mas lembre-se, ainda pouco fiz um pedido, estão lembrados?
Ah! Finalmente surge uma palavra... Duas... Até mais. Ah! Se não fossem essas letras. Hoje não seria capaz de lhe desejar um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo. Não poderia dizer também que sou seu amigo. Estaria me sentindo um fracassado se não pudesse dizer a você, a mensagem mais linda da terra: Deus Te Ama!
As letras me ensinam, então, que elas não foram criadas para viverem separadas ou que seja apenas para aprendê-las e conhecê-las, mas, sobretudo, para bem empregá-las. E hoje, tomo a liberdade para dizer, usando delas e de forma bem legível: VOCÊ É MUITO ESPECIAL! E, também:
“FELIZ NATAL E UM ANO NOVO REPLETO DE BOAS NOVAS!”
Ananias Matos

O Constante Diálogo

Carlos Drummond de Andrade
 Há tantos diálogos
Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado
Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o mais que futuro
Escolhe teu diálogo e tua melhor palavra ou teu melhor silêncio.
Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos.
Carlos Drummond de Andrade, poeta, contista e cronista brasileiro. (1902 a 1987)

A cada um a dignidade que lhe convém

Baltasar Gracián
Nem todo mundo é rei, mas seus atos devem ser a mesma dignidade, dentro dos limites de sua espera. Uma maneira régia de fazer as coisas: grandiosidade de ação, uma mente sublime.
É preciso assemelhar-se a um rei em mérito, mesmo não sendo, pois a verdadeira soberania está na integridade de costumes. Não teremos de invejar a grandeza se pudermos servir-lhe de padrão.
Aqueles que se encontram próximos ao trono, em especial, devem tentar assimilar um pouco da verdadeira superioridade.
Procurem partilhar os dons morais da majestade, em vez da pompa, e aspirar a coisas elevadas e substanciais,em vez da vaidade tola.
Baltasar Gracián (Jesuíta espanhol) *01/01/1601 +06/12/1658

A distância entre Pai e Filho
Ananias Matos
Seria um dia que passaria despercebido tranqüilamente e talvez, nem existisse não fosse o marketing. O fato é que existe. E, portanto, merece, não apenas ser comemorado, mas, sobretudo, refletido.
Quando se fala em pai, não há como deixar a figura do filho de lado. Creio que as duas coisas se entrelaçam e se completam, para ser mais preciso. O homem não é pai por ter um filho, mais será sempre filho, mesmo não tendo um pai.
A distância entre ser pai e filho, não se mede em metros, nem em milhas ou km, na verdade, ela não existe.
Essa conclusão não parece ser verdadeira, pode alguém argüir. Até porque, não precisa nem sair de casa para se dizer que a distância entre pai e filho é quilométrica, principalmente na nossa sociedade moderna, tão cheia de indiferenças.
Não seria então melhor falar sobre como fazer para diminuir o espaço existente entre esses dois mundos tão distintos? Talvez fosse, mas, prefiro contradizer esse argumento de que pais e filhos são pessoas tão diferentes.
Creio que ser pai é um dom outorgado pelo Criador, não foi entregue ao homem por mero capricho, sem que se levasse em conta sua capacidade de ser. Evidentemente que quando falo nisso, não me refiro àquele que, simplesmente faz um filho e o larga à própria sorte, muito menos ao que, por meio de sua bruta força, o faz violentando uma mulher. Esse tipo de homem pode ser qualquer coisa, menos um pai.
Tratemos, pois, do verdadeiro pai. Vejamos a cumplicidade de gerar filho existente entre um homem e uma mulher. Nenhum pode fazer isso sozinho, isso demonstra a relação que há entre ambos. Ora, dessa união, só pode nascer alguém que também venha se tornar semelhante a eles. Portanto, como se falar em distância entre seres tão unos?
Talvez se queira falar de distância, no sentido de escolhas, de sentimentos e etc., aí é outra história, mas, mesmo assim, ainda não se pode afirmar que exista espaço entre pai e filho, porque os pensamentos podem ser desiguais, mas nunca seu interior, o caráter deve ser igual, mesmo com personalidade diferente.
Para que isso fique mais claro, vamos procurar esclarecer um questionamento que nos parece sem resposta, e talvez seja a sua indagação nesse momento. Como explicar a situação de um filho rebelde, tendo um pai que é uma expressão de bondade? Bom, de início se faz necessário relembrarmos o que falamos anteriormente sobre a ausência de distância que existe entre pai e filho, pois bem, esta condição de unidade só pode sobreviver se houver, por parte do filho, no presente exemplo, uma escolha por ela, isto é, muito embora seja uma regra imutável – a igualdade entre eles – todavia, isso será uma questão de escolha, estritamente pessoal, em outras palavras, o filho tem a liberdade de escolher segui o bom exemplo do pai, entretanto, isso às vezes não acontece, porque movido por outros sentimentos, faz uma escolha diversa, opta por abrir mão de seu direito de ser bom filho. Pura escolha! Lamentável por sinal.
Por isso digo a você, não abra mão de ser um bom pai, mesmo que seu filho não seguia seus passos, ainda assim, ele jamais será capaz de dizer que lhe faltou exemplo nesta vida. Não poderia deixar de mencionar, a título de exemplo a ser seguido por todos nós, a do mestre Jesus, que mesmo distante de seu pai, optou por ser o filho amado, ou seja, não abriu mão desse direito, muito embora tivesse a liberdade de fazer. Poderia ter feito a escolha inversa, pois seu pai estava muito distante, porém o que os unia era o amor recíproco. Veja essas passagens:
Do Pai para o filho: “Este é meu filho amado em quem me comprazo...” (Mt 3.17); do filho para o Pai: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim e eu em ti.” (Jo 17.21); “Eu e o Pai somos um.” (Jo 10.30)
Esta unidade não é uma possibilidade apenas divina, mas humana. E quem dela desfruta pode dizer como disse o filho: “E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas...” (Jo 17.10). Filho, como está a sincronia com seu pai? Pai, como está sua relação com seu filho? Será que as pessoas que os observam, pode testemunhar que é uma boa relação?
Achas que está distante de seu pai, só porque ele não está perto de você fisicamente? Ou porque ambos têm gostos diferentes? Creia! Vocês nunca estarão separados, porque o que vos une, como já disse, não é algo humano e nem físico, mas divino. Em outras palavras, é o dom intrínseco de pai e filho que simplesmente existe em vocês, implantado em vossos corações pelo nosso Pai Maior. Nunca permita que esse elo se rompa.
Não fale mais em distância entre você e seu filho, pois elas não existem, o que há são apenas barreiras criadas, na maioria das vezes, sem que percebamos, mesmo assim, elas devem ser destruídas pela única arma que pode vencê-las, o amor. É ele que vos une e isto provém de Deus!
Com votos de laços reatados, de diferenças deixadas de lado e de uma volta à unidade, desejo: Bom dia dos pais!


Milho de Pipoca

Rubem Alves
A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.
O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
 Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
 Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem.
Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.  Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão,  sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: bum! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
 A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira.

Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
E você, o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?